O escafandro é provavelmente a imagem mais fácil de ser associada à exploração submarina e pode ser encontrado em uso até hoje. Apesar do peso (um modelo Mk V pesava mais de 100 kg), da pouca mobilidade (devido ao umbilical que fornecia ar a partir da superfície) e da visibilidade limitada, ele permitiu a realização de façanhas simplesmente inacreditáveis...
Em 1885 o mergulhador Alexander Lambert resgatou sozinho meio milhão de dólares em moedas de ouro de uma sala forte do naufrágio do Alfonso XII a 50 m, embora isto tenha custado a Lambert uma aposentadoria precoce graças a doença descompressiva.
Em 1905 arquitetos descobriram que a catedral de Winchester (Inglaterra) estava prestes a ruir devido a infiltração de água em suas fundações. Construída no século VII, a catedral era um monumento histórico e era inaceitável perdê-la. A única saída era utilizar mergulhadores para instalar apoios nas fundações, um trabalho gigantesco para a época. O surpreendente é que a tarefa foi realizada por um único homem, William Walker, entre 1906 e 1911. Durante 6 anos Walker mergulhou com seu escafandro 6 horas por dia em visibilidade zero para escavar 235 poços e instalar os reforços a 8 m de profundidade.
No início do século acidentes com mergulhadores se tornavam cada vez mais graves e frequentes devido a um mal que poucos compreendiam: a doença descompressiva. Em 1906 o almirantado inglês decidiu criar um comitê para investigar o problema, nomeando o professor John Scott Haldane como seu líder. Haldane atacou os problemas do mergulho de forma científica e introduziu diversos novos equipamentos, como câmaras de descompressão e compressores mais eficientes. Mas ele é lembrado até hoje por ter criado o conceito de descompressão em estágios e as tabelas de descompressão. As tabelas sofreram diversas modificações durante este século, mas suas teorias são utilizadas até hoje, inclusive nos modernos computadores de mergulho (alguém já ouviu a expressão "Modelo Haldaniano" ?).
O grande público começou a ter contato com o mundo submarino em 1916 quando estreiou nos EUA o filme 20.000 Léguas Submarinas. A maioria das pessoas que assitem ao clássico de 1954 produzido pelos estúdios Disney nem imagina que esta é a segunda versão para o cinema da obra de Júlio Verne. Quase 40 anos antes os irmãos Williamson utilizaram escafandros para produzir a primeira versão, mostrando cenas submarinas nunca antes vistas. Como as caixas estanques ainda não haviam sido inventadas, os Williamson criaram a fotosfera, uma esfera submersa para abrigar a câmara, ligada por um longo tubo à superfície que permitia ao operador subir e descer.
Apesar do grande interesse do público, quando o transatlântico Laurentic afundou durante a Primeira Guerra Mundial carregando mais de 25 milhões de dólares em barras de ouro, a marinha inglesa foi obrigada a iniciar uma operação altamente secreta para não chamar a atenção dos alemães. Entre 1917 e 1924 os mergulhadores da Royal Navy recuperaram praticamente toda carga do interior do naufrágio a 36 m de profundidade.
O homem utilizava o escafandro para executar trabalhos no mar, em pontes, portos, rios, naufrágios e em qualquer outro lugar onde houvesse água mas apesar da evolução, a profundidade máxima ainda era limitada. Alguns mergulhadores chegaram a descer a mais de 100 m com este tipo de equipamento e respirando ar, mas a narcose pelo nitrogênio praticamente impedia a execução de trabalhos mais complexos em profundidades além dos 30m.
O impulso que faltava para o desenvolvimento do mergulho profundo veio da marinha dos EUA após a perda do submarino S-4 e toda a sua tripulação a 31 m. A revolta da opinião pública ao saber que a equipe de salvamento era capaz de se comunicar com os sobreviventes a bordo do submarino mas não tinha como resgata-los foi tanta que a marinha decidiu formar um grupo com o objetivo de aumentar a profundidade máxima de trabalho das equipes de resgate. Entre outros projetos, o grupo começou a trabalhar na utilização de hélio nas misturas respiratórias para diminuir o efeito da narcose.
Mas a prova final de que o hélio era uma alternativa viável para o problema da narcose e só veio em 1939 com o afundamento de outro submarino americano. O Squalus submergiu sem fechar uma válvula e, com a água invadindo o submarino, os tripulantes não tiveram tempo de escapar e foram obrigados a refugiar-se nos compartimentos não alagados. Dos 59 tripulantes, 33 sobreviveram e ficaram presos a 75 m de profundidade.
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O Squalus foi localizado rapidamente e em poucas horas um navio de resgate estava em posição. A idéia era utilizar um novo sino de mergulho que podia se acoplar em uma das escotilhas do submarino, funcionando como um elevador para trazer os tripulantes de volta à superfície. No entanto, era preciso fixar um cabo guia ao submarino. Os mergulhadores tentaram fixar o cabo diversas vezes, mas a narcose e o frio impediam que eles completassem a missão. Com o tempo se esgotando, a equipe tomou uma decisão: enviar um homem ao fundo utilizando um equipamento experimental e uma mistura à base de hélio. Em poucos minutos o mergulhador prendeu o cabo e após 12 viagens do sino, os 33 sobreviventes foram resgatados. Nas semanas seguintes, a marinha realizou mais de 100 mergulhos utilizando hélio para trazer o Squalus de volta à tona na operação de salvatagem mais profunda até então. A "embriaguez das profundezas" não era mais uma barreira para a exploração do fundo do mar.
Era preciso encontrar uma forma libertar os mergulhadores e, embora diversos pioneiros tenham demonstrado soluções para o problema durante a década de 30, foi preciso esperar até 1943 para que dois franceses, Jacques-Yves Cousteau e Emile Gagnan cortassem de forma definitiva os umbilicais, criando o Aqualung e dando início a um novo capítulo da história do mergulho.
Continue seguindo o blog, na próxima postagem você saberá como foi o nascimento do mergulho autônomo.